Primum non nocere
Hipócrates, ao redor do ano 430 aC, propôs aos médicos, no parágrafo 12 do primeiro livro da sua obra Epidemia: "Pratique duas coisas ao lidar com as doenças; auxilie ou não prejudique o paciente" - ou seja, primum non nocere - primeiro de tudo, não provoque nenhum dano.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Suplementação com vitamina B e ácido fólico não reduz o declínio cognitivo na Doença de Alzheimer
A homocisteína é um aminoácido (produzido após a digestão de carnes ou laticínios), que em
excesso no sangue, provoca aumento do risco de coágulos e entupimento das artérias, além de contribuir para a formação de depósitos de gordura nas paredes dos vasos sanguíneos, aumentando sua rigidez e dando origem à chamada aterosclerose.
Estudos prévios têm mostrado que os níveis de homocisteína podem estar elevados na doença de Alzheimer e que essa elevação poderia contribuir para os mecanismos vasculares e neurotóxicos responsáveis pela degeneração cerebral. Sabe-se também que mesmo na ausência de deficiência de vitaminas, os níveis de homocisteína podem ser reduzidos pela administração de altas doses de ácido fólico e vitaminas B6 e B12.
O presente estudo pretendeu determinar a eficácia e segurança da suplementação de ácido fólico e vitamina B no tratamento da doença de Alzheimer. Trata-se de um ensaio clinico de alta qualidade, envolvendo 340 participantes e acompanhados por 18 meses.
Os resultados mostraram que embora a suplementação tenha reduzido os níveis sanguíneos de homocisteína, não ocorreu qualquer efeito sobre a lentificação do declínio cognitivo característico da doença de Alzheimer. Adicionalmente, observou-se uma maior quantidade de eventos adversos envolvendo depressão nos pacientes tratados com os suplementos vitamínicos.
Portanto, mais um estudo mostrando que a suplementação de vitaminas não altera a evolução da maioria das doenças e inclusive pode provocar o aparecimento de efeitos adversos importantes conforme vem sendo documentado em outros estudos. Antes de pensar em alguma suplementação com vitaminas, aminoácidos e outros compostos bioenergéticos, especialmente os indicados pela falaciosa medicina ortomolecular, converse com seu médico.
terça-feira, 1 de maio de 2007
Melhora global da função vascular e estado redox com baixa dose de ácido fólico.
Shirodaria C, Antoniades C, Channon KM et al. Global Improvement of Vascular Function and Redox State With Low-Dose Folic Acid. Implications for Folate Therapy in Patients With Coronary Artery Disease. Circulation. May 1, 2007;115(17):2262-2270.
Conhecimento prévio ao estudo: Embora a fortificação dietética com folato reduza a homocisteína plasmática e pode reduzir o risco cardiovascular, o tratamento com altas doses de ácido fólico não parece alterar a evolução clínica. O ácido fólico e seu principal metabólito circulante, 5-metiltetrahidrofolato, melhora a função vascular, mas os mecanismos relacionando a dose de folato e a função vascular permanecem pouco claros.
Estudo: Estudo prospectivo, longitudinal, randomizado, controlado, com 56 pacientes sem fortificação de folato que receberam baixa dose (40microg/dia) ou alta dose (5mg/dia) de ácido fólico ou placebo por 7 semanas antes de submeterem-se a bypass arterial coronariano. Foram realizados estudos de ressonância magnética antes e depois do tratamento em secções de veia safena e mamária interna.
Conhecimento adquirido com o estudo: Baixa dose de ácido fólico aumenta a resposta vasomotora dependente do endotélio mediada pelo óxido nítrico, reduz a produção de superóxido vascular e melhora o acoplamento enzimático da sintetase do óxido nítrico através da disponibilidade do cofator tetrahidrobiopterina. Nenhuma melhora adicional nesses parâmetros ocorreu com uma dose mais alta do ácido fólico comparado com o tratamento com dose baixa.
Comentário: Estudo clínico prospectivo, longitudinal, randomizado, controlado com grupos paralelos sob intervenção e contra placebo. Metodologia adequada. Excelente aplicabilidade clínica.
O tratamento com baixa dose de ácido fólico, comparável com a ingesta diária e a fortificação da dieta, melhora a função vascular através de efeitos sobre a sintetase do óxido nítrico e sobre o stress oxidativo vascular. Alta dose de ácido fólico não confere benefício adicional.
Os autores principais são membros do Department of Cardiovascular Medicine,