Primum non nocere

Hipócrates, ao redor do ano 430 aC, propôs aos médicos, no parágrafo 12 do primeiro livro da sua obra Epidemia:
"Pratique duas coisas ao lidar com as doenças; auxilie ou não prejudique o paciente" - ou seja, primum non nocere - primeiro de tudo, não provoque nenhum dano.
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segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Dieta tipo Mediterrâneo associada a um menor risco para doença crônica e morte

Sofi F et al. Adherence to Mediterranean diet and health status: meta-analysis. BMJ 2008;337:a1344, doi: 10.1136/bmj.a1344 (Published 11 September 2008)

Esse estudo é uma meta-análise (verificação e análise dos dados de vários ensaios clínicos sobre um mesmo tema) de 12 ensaios clínicos populacionais prospectivos com 1,6 milhões de indivíduos com um tempo de seguimento de 3 a 18 anos. Os pesquisadores verificaram que um aumento de dois pontos na aderência a uma dieta tipo Mediterrâneo (em uma escala de 9 pontos) foi associada com um risco significativamente reduzido para mortalidade de todas as causas; morte por doença cardiovascular; incidência de ou morte por câncer; e incidência de doença de Alzheimer ou Parkinson.

Uma dieta tipo Mediterrâneo inclui alta taxa de ingesta de vegetais, frutas, legumes, cereais e peixe associado ao consumo moderado de vinho tinto com as refeições.

Os pesquisadores consideram esses achados particularmente relevantes para encorajar a adoção de um padrão dietético do tipo Mediterrâneo na prevenção primária das principais doenças crônicas.


sábado, 23 de agosto de 2008

Medicamentos indicados para fatiga relacionada a câncer

Minton O. et al. A systematic review and meta-analysis of the pharmacological treatment of cancer-related fatigue. J Natl Cancer Inst. August 20, 2008; 100(16):1155-1166.


Revisão sistemática de 27 ensaios randomizados de tratamentos medicamentosos para fatiga relacionada a câncer, envolvendo 6.746 pacientes, mostrou que apenas o metilfenidato, a eritropoetina e a darbepoetina apresentam algum efeito quando comparados com placebo, sendo que esses dois últimos especialmente em pacientes com anemia associada. A paroxetina e os esteróides progestacionais não mostraram benefícios.
Portanto, segue a busca por tratamentos que possam melhorar essa importante condição clínica de pacientes com câncer.


sábado, 20 de outubro de 2007

Novo agente melhora a sobrevivência global em homens com câncer de próstata hormônio-resistente.

Homens com câncer de próstata hormônio-resistente (CPHR) atingiram uma redução de 45% no risco de morte quando eles foram tratados com um medicamento ainda experimental, o ZD4054, comparado com placebo. Trata-se de um estudo de fase 2, apresentado recentemente na 14º. European Cancer Conferece (ECCO), compreendendo 312 homens assintomáticos ou levemente sintomáticos com CPHR e metástases ósseas. O uso da medicação determinou uma redução de 45% no risco de morte comparado com placebo e uma sobrevida global média de 24,5 meses comparado com 17,3 meses com placebo. O ZD4054 bloqueia o receptor para endotelina A, podendo inibir a proliferação celular tumoral, a sobrevivência das células tumorais e a formação de metástases ósseas.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Associação de aspirina e medicamentos antiinflamatórios não esteróides e não aspirina com incidência de câncer e mortalidade

Bardia A, Ebbert JO, Cerhan JR et al. Association of Aspirin and Nonaspirin Nonsteroidal Anti-inflammatory Drugs With Cancer Incidence and Mortality. JNCI Journal of the National Cancer Institute. June 6, 2007 99(11):881-889.

Conhecimento prévio ao estudo: Os benefícios preventivos para câncer da aspirina e medicamentos antiinflamatórios não hormonais (AINH) não estão completamente definidos e podem variar de acordo com a história de tabagismo.

Estudo: Estudo prospectivo de coorte sobre o uso de aspirina e AINH, incidência de câncer e mortalidade global e por doença cardíaca coronariana entre mulheres residentes no estado de Iowa, as quais participaram do Iowa Women’s Health Study. História de tabagismo também foi incorporada na análise.

Conhecimento adquirido com o estudo: AINHs não aspirina não foram associados com qualquer resultado neste estudo. Entretanto, o uso de aspirina foi inversamente associado com incidência de câncer e doença relacionada com câncer ou doença cardíaca coronariana e mortalidade global. As associações foram discretamente mais fortes, mas não estatisticamente significativas, entre prévios ou nunca fumantes do que entre fumantes atuais.

Atenção para variações quanto a dose dos medicamentos empregados e também à restrição da população de mulheres brancas na pós-menopausa, o que pode não refletir o resultado para população em geral.

Os autores principais são membros dos Departments of Internal Medicine e Health Sciences Research, University of Minnesota, Minneapolis, MN, USA. Autor responsável: Jon O. Ebbert, MD - ebbert.jon@mayo.edu.

sábado, 7 de abril de 2007

Uso da aspirina por longo tempo e mortalidade em mulheres

Chan AT, Manson JE, Fuchs CS et al. Long-term Aspirin Use and Mortality in Women. Arch Intern Medicine. March 26, 2007;167(6):562-572.

Conhecimento prévio ao estudo: Apesar de bem consolidado o benefício da aspirina em baixa dose em homens, a influência do uso da aspirina por longo tempo sobre a mortalidade em mulheres permanece incerto.

Estudo: Estudo prospectivo, longitudinal, de caso controle, inserido no Nurses’ Health Study, do qual participaram 79.439 mulheres que não tinham história de doença cardiovascular ou câncer. Os dados clínicos e sobre medicações foram fornecidos a cada 2 anos desde 1980. Verificou-se o risco relativo (RR) de morte de acordo com o uso de aspirina antes do diagnóstico de doença cardiovascular ou câncer incidentes e durante o período correspondente para cada indivíduo controle.

Durante 24 anos, foram documentadas 9.477 mortes de todas as causas. Em mulheres que relataram o uso corrente de aspirina, o RR multivariado de morte de todas as causas foi 0,75 comparado com mulheres que nunca usaram aspirina regularmente. A redução de risco foi mais aparente para morte de doença cardiovascular (RR, 0,62) do que morte por câncer (RR, 0,88). O uso de aspirina por 1 a 5 anos foi associado com reduções significativas na mortalidade cardiovascular (RR, 0,75). Ao contrário, uma redução significativa no risco de morte por câncer não foi observado até depois de 10 anos do uso de aspirina (P= 0,005). O benefício associado com a aspirina foi confinado a baixas e moderadas doses e foi significativamente maior em participantes de mais idade (P= 0,02).

Conhecimento adquirido com o estudo: Em mulheres, doses baixas a moderadas de aspirina são associadas com significativamente menor risco de mortaçlidade de todas as causas, particularmente em mulheres com mais idade e naquelas com fatores de risco cardíacos. Um benefício significativo é evidente dentro de 5 anos para doença cardiovascular, enquanto que um modesto benefício para câncer não é aparente até depois de 10 anos do uso de aspirina.

Força de evidência: (A)* - Estudo clínico prospectivo, longitudinal, observacional, populacional, de caso controle, com uma amostra de alta significância, tanto nos casos quanto nos controles. Metodologia adequada e excelente tratamento estatístico. O controle por parte dos pesquisadores determinou uma baixa perda de seguimento, permitindo alta significância nos resultados. Excelente aplicabilidade clínica.

Os autores são membros da Gastrointestinal Unit, Massachusetts General Hospital and Harvard Medical School, da Division of Preventive Medicine e Channing Laboratory, Department of Medicine, Brigham and Women's Hospital and Harvard Medical School, do Department of Epidemiology, Harvard School of Public Health e do Department of Medical Oncology, Dana-Farber Cancer Institute, Boston, Mass.

sexta-feira, 30 de março de 2007

Um teste imunoquímico quantitativo de sangue oculto nas fezes para neoplasia colo-retal

Levi Z, Rozen P, Niv Y et al. A quantitative immunochemical fecal occult blood test for colorectal neoplasia. Ann Intern Med. Feb 20, 2007;146(4):244-255.

Conhecimento prévio ao estudo: Os testes de pesquisa de sangue oculto nas fezes (PSOF) convencionais (baseado em guáiaco) para screening de câncer colo-retal não são específicos para hemoglobina humana e não necessita de dieta restritiva.

Estudo: O objetivo do estudo foi medir a sensibilidade e especificidade da pesquisa quantitativa de hemoglobina fecal por imunoquímica para detecção de câncer e adenoma avançado em pacientes submetendo-se a colonoscopia. Secundariamente, determinar os limites do teste que indicam as maiores probabilidades para neoplasias e determinar o número de testes necessários. Foram recrutados 1.000 pacientes de um serviço de endoscopia (Tel Aviv, Israel), alguns sintomáticos, outros assintomáticos, mas sob risco aumentado de neoplasia colo-retal, que estavam aguardando para submeterem-se à colonoscopia eletiva, para 3 coletas de fezes.

A colonoscopia identificou neoplasia clinicamente significativa em 91 pacientes (câncer em 17 e adenomas avançados em 74 pacientes). Usando 3 PSOFs e um limite para hemoglobina de 75ng/mL, sensibilidade e especificidade foram de 94,1% e 87,5%, respectivamente para câncer e 67% e 91,4%, respectivamente para neoplasia clinicamente significativa.

Conhecimento adquirido com o estudo: Pesquisa quantitativa de sangue oculto nas fezes pelo método imunoquímico tem boa sensibilidade e especificidade para detecção de neoplasia clinicamente significativa.

Força de evidência: (A)* - Estudo clínico prospectivo, transversal, observacional, de uma coorte expressiva de indivíduos. Metodologia e tratamento estatístico de boa qualidade, entretanto é necessário atentar para o fato de que a população estudada ou estava sintomática ou tinham alto risco para câncer colo-retal, já que todos tinham agendado uma colonoscopia. Possivelmente, os resultados em uma população geral ao acaso poderiam ser diferentes. Excelente aplicabilidade clínica.

Os autores são membros do Rabin Medical Center, Beilinson Hospital, Petach Tikva, Israel. Autor responsável: Paul Rozen, MBBS – paulro@clalit.org.il.

quarta-feira, 28 de março de 2007

Avaliação com IRM da mama contralateral em mulheres com câncer de mama recentemente diagnosticado

Lehman CD, Gatsonis C, Schnall MD et al from ACRIN Trial 6667 Investigators Group. MRI Evaluation of the Contralateral Breast in Women with Recently Diagnosed Breast Cancer. New England Journal of Medicine. March 29, 2007;356(13):1295-1303.

Conhecimento prévio ao estudo: Mesmo após cuidadosa avaliação clínica e mamográfica, câncer é encontrado na mama contralateral em até 10% das mulheres que receberam tratamento para câncer de mama unilateral.

Objetivo do estudo: Determinar se o exame de imagem por ressonância magnética (IRM) poderia melhorar o exame clínico da mama e a mamografia na detecção de câncer de mama contralateral logo após o diagnóstico inicial de câncer de mama unilateral.

Metodologia: Estudo clínico prospectivo, longitudinal, de uma coorte de 969 mulheres com um diagnóstico recente de câncer de mama unilateral e sem anormalidades no exame clínico e mamográfico da mama contralateral, as quais foram submetidas a exame de imagem por ressonância magnética da mama. O diagnóstico de câncer detectado por IRM foi confirmado por meio de biópsias dentro de 12 meses após a entrada no estudo. A ausência de câncer de mama foi determinada por meio de biópsias, ausência de achados positivos em imagens repetidas e exame clínico, ou ambos ao final de 1 ano de seguimento.

Resumo dos resultados: A IRM detectou câncer de mama clinica e mamograficamente oculto na mama contralateral em 30 das 969 mulheres que participaram do estudo (3,1%). A sensibilidade da IRM na mama contralateral foi de 91% e a especificidade foi de 88%. O valor preditivo negativo da IRM foi de 99%. Uma biópsia foi realizada com base nos achados positivos da IRM em 121 das 969 mulheres (12,5%), 30 das quais tinham espécimes que foram positivos para câncer (24,8%), sendo que 18 desses 30 espécimes foram positivos para câncer invasivo. O diâmetro médio dos tumores invasivos detectados foi de 10,9 mm. O número adicional de cânceres detectados não foi influenciado pela densidade da mama, condição de menopausa ou padrões histológicos do tumor primário.

Conhecimento adquirido com o estudo: O exame de imagem por ressonância magnética pode detectar câncer na mama contralateral, não detectável por exame clínico ou mamografia ao tempo do diagnóstico inicial do câncer de mama.

Força de evidência: (A)* - Estudo clínico prospectivo, longitudinal, de coorte, de metodologia original e com boa qualidade técnica. Praticamente ausência de perda de seguimento em um período adequado de follow-up. Tratamento estatístico de excelente qualidade. Excelente aplicabilidade clínica.

Os autores principais são membros da University of Washington Medical Center, Seattle, da Brown University, Providence, RI e da University of Pennsylvania Medical School, Philadelphia. Autor responsável: Dr. Lehman – lehman@u.washington.edu.

quinta-feira, 22 de março de 2007

Vacina quadrivalente contra o papiloma vírus humano – Recomendações do Comitê de Aconselhamento em Práticas de Imunização (ACIP) do CDC

Markowitz LE, Dunne EF, Unger ER at al. Quadrivalent Human Papillomavirus Vaccine - Recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). CMMWR – CDC – Recommendations and Reports. March 23, 2007; 56(RR02): 1-24.

Artigo de revisão: Resumo de artigo com total fidelidade ao texto original dos autores.

Essas recomendações representam o primeiro relatório do Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP) sobre o uso da vacina quadrivalente contra o papiloma vírus (HPV) licenciada pelo FDA em 8 de Junho de 2006. Esse relatório sumariza a epidemiologia do HPV e doenças associadas, descreve a vacina licenciada contra HPV e fornece recomendações para seu uso na vacinação de mulheres com idades entre 9 e 26 anos nos Estados Unidos.

O HPV genital é a mais comum infecção transmitida sexualmente nos EUA; estima-se que 6,2 milhões de pessoas são novamente infectados a cada ano. Embora a maioria das infecções não cause sintomas clínicos e sejam autolimitadas, infecção persistente com tipos oncogênicos pode causar câncer cervical em mulheres. A infecção pelo HPV também é causa de verrugas genitais e é associada com outros cânceres anos-genitais. As taxas de câncer cervical têm diminuído nos EUA em função do amplo uso do teste de Papanicolau, o qual pode detectar lesões pré-cancerígenas do colo uterino antes que elas evoluam para câncer; apesar disso, durante 2007, uma estimativa de 11.100 novos casos serão diagnosticados e aproximadamente 3.700 mulheres morrerão de câncer do colo do útero. Em certos países onde o screening para câncer do colo não é rotineiro, o câncer cervical é um câncer comum em mulheres.

A vacina licenciada contra HPV é composta pela proteína HPV L1, a maior proteína do capsídeo do HPV. A expressão da proteína L1 em leveduras usando tecnologia de DNA recombinante produz partículas não infecciosas semelhantes à vírus (VLPs) que lembram os vírions HPV. A vacina quadrivalente contra HPV é uma mistura de 4 tipos específicos de VLPs do HPV preparados com as proteínas L1 dos HPV 6, 11, 16 e 18 combinadas com um alumínio adjuvante. Ensaios clínicos indicam que a vacina tem alta eficácia na prevenção de infecção persistente pelo HPV, lesões precursoras de câncer cervical, lesões precursoras de câncer vaginal e vulvar e verrugas genitais causadas pelos HPV dos tipos 6, 11, 16 e 18 entre mulheres que não tenham ainda sido infectadas com os respectivos tipos de HPV. Não existe evidência de proteção contra doença causada pelos tipos de HPV com os quais as mulheres estejam infectadas no momento da vacinação. Entretanto, mulheres infectadas com um ou mais dos tipos de HPV da vacina antes da vacinação poderiam ser protegida contra doença causada por outros tipos de HPV da vacina.

A vacina é administrada por via intramuscular e a dose recomendada é uma série de 3 doses com a segunda e a terceira doses administradas 2 e 6 meses após a primeira dose. A idade recomendada para vacinação de mulheres é dos 11 aos 12 anos. A vacina pode ser administrada a partir dos 9 anos de idade. A vacinação de atualização é recomendada para mulheres de 13 a 26 anos que não tenham sido previamente vacinadas. A vacinação não é um substituto para o screening de rotina para câncer cervical e as mulheres vacinadas deveriam continuar a se submeter ao screening para câncer cervical conforme recomendado.

O autor responsável é membro do National Center for HIV/AIDS, Viral Hepatitis, STD and TB Prevention (proposed), Atlanta, GA, USA - Lauri Markowitz, MD - lem2@cdc.gov.