Primum non nocere

Hipócrates, ao redor do ano 430 aC, propôs aos médicos, no parágrafo 12 do primeiro livro da sua obra Epidemia:
"Pratique duas coisas ao lidar com as doenças; auxilie ou não prejudique o paciente" - ou seja, primum non nocere - primeiro de tudo, não provoque nenhum dano.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Efeito do sulfato de condroitina na osteoartrite sintomática de joelho: um estudo multicêntrico, randomizado, duplo-cego, placebo controlado

Mazières B, Hucher M, Zaïm M and Garnero P. Effect of chondroitin sulphate in symptomatic knee osteoarthritis: a multicentre, randomised, double-blind, placebo-controlled study. Annals of the Rheumatic Diseases. May, 2007;66(5):639-645.

Conhecimento prévio ao estudo: O sulfato de condroitina, frequentemente acompanhado pela glucosamina, tem sido empregado medicamente e como suplemento alimentar para o tratamento e prevenção da osteoartrite. Estudos clínicos bem conduzidos ainda são escassos para uma tomada segura de posição quanto ao seu emprego.

Estudo: Estudo prospectivo, longitudinal, randomizado, duplo cego, controlado contra placebo, multicêntrico, conduzido por 24 semanas, com 307 pacientes com osteoartrite de joelho, os quais usaram diariamente 1g de sulfato de condroitina. Foram avaliados a condição de dor nas atividades diárias, o índice de Lesquene, o critério OMERACT-OARSI, qualidade de vida e as verificações paciente/médico, assim como marcadores bioquímicos do metabolismo do osso, cartilagem e sinóvia.

Conhecimento adquirido com o estudo: O estudo não mostrou uma eficácia significativa do sulfato de condroitina sobre os dois critérios principais considerados juntos (redução da dor nas atividades diárias e índice de Lesquene), embora ele tenha sido discretamente mais efetivo do que o placebo sobre a dor, a taxa de resposta do critério OMERACT-OARSI, avaliação do pesquisador e qualidade de vida. Adicionalmente, não foram observadas diferenças significativas sobre os biomarcadores estudados. A tolerância foi considerada satisfatória (9% dos pacientes abandonaram o tratamento, ou pela ausência de efeito ou por eventos adversos).

Comentário: Estudo clínico prospectivo, longitudinal, randomizado, duplo-cego, controlado contra placebo, multicêntrico de alta qualidade técnica. Metodologia correta e tratamento estatístico de acordo. Boa aplicabilidade clínica.

A pobre resposta ao emprego dessa medicação / suplemento alimentar (vendido sem receita médica e de qualidade ignorada), somada ao seu alto custo (média de R$ 100,00/mês) e ao uso prolongado para obtenção de algum efeito sugerem que seu uso deveria ser desaconselhado até que estudos bem conduzidos como acima demonstrem evidência consistente de eficácia.

Os autores são membros da Paul Sabatier University, Toulouse-3 and Department of Rheumatology, Rangueil University Hospital, Toulouse, do Institut de Recherche Pierre Fabre; Ramonville Saint-Agne, e do INSERM research Unit 664, Lyon, France. Autor responsável: Prof B. Mazières – mazieres@cict.fr.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Medicação antidepressiva – FDA – 02 Maio de 2007

O FDA notificou os profissionais da saúde que a Agência propôs que todos os fabricantes de todas as medicações antidepressivas atualizem o item advertência (black box warning) sobre as informações de prescrição dos seus produtos para incluir aviso a cerca dos riscos aumentados de ideação e comportamento suicida em adultos jovens com idade entre 18 e 24 anos durante os primeiros dois meses de tratamento. A mudança nas informações para prescrição também estabelece que dados científicos não mostraram esse risco aumentado em adultos com mais de 24 anos e que adultos com mais de 65 anos tomando antidepressivos tem um reduzido risco de suicídio.

Hidrocloreto de tizanidina (Zanaflex®, Sirdalud®) – FDA – Abril 2007

Acorda Therapeutics e o FDA informaram os profissionais da saúde de mudanças nas informações para prescrição do produto denominado de Zanaflex® (Sirdalud® no Brasil), uma medicação usada para o tratamento de espasticidade. Em estudos farmacocinéticos quando a tizanidina foi co-administrada com ou fluvoxamina ou ciprofloxacina (inibidores do CYP 1A2), a concentração sérica da tizanidina foi significativamente aumentada, potencializando seus efeitos sedativos e hipotensores. Embora não haja estudos clínicos avaliando os efeitos de outros inibidores do CYP1A2 sobre a tizanidina, a co-administração dessa medicação com outros inibidores do CYP 1A2 (zileuton, fluroquinolonas, antiarritmicos, cimetidina, famotidina, contraceptivos orais, aciclovir e ticlopidina) deveria ser evitada.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Melhora global da função vascular e estado redox com baixa dose de ácido fólico.

Shirodaria C, Antoniades C, Channon KM et al. Global Improvement of Vascular Function and Redox State With Low-Dose Folic Acid. Implications for Folate Therapy in Patients With Coronary Artery Disease. Circulation. May 1, 2007;115(17):2262-2270.

Conhecimento prévio ao estudo: Embora a fortificação dietética com folato reduza a homocisteína plasmática e pode reduzir o risco cardiovascular, o tratamento com altas doses de ácido fólico não parece alterar a evolução clínica. O ácido fólico e seu principal metabólito circulante, 5-metiltetrahidrofolato, melhora a função vascular, mas os mecanismos relacionando a dose de folato e a função vascular permanecem pouco claros.

Estudo: Estudo prospectivo, longitudinal, randomizado, controlado, com 56 pacientes sem fortificação de folato que receberam baixa dose (40microg/dia) ou alta dose (5mg/dia) de ácido fólico ou placebo por 7 semanas antes de submeterem-se a bypass arterial coronariano. Foram realizados estudos de ressonância magnética antes e depois do tratamento em secções de veia safena e mamária interna.

Conhecimento adquirido com o estudo: Baixa dose de ácido fólico aumenta a resposta vasomotora dependente do endotélio mediada pelo óxido nítrico, reduz a produção de superóxido vascular e melhora o acoplamento enzimático da sintetase do óxido nítrico através da disponibilidade do cofator tetrahidrobiopterina. Nenhuma melhora adicional nesses parâmetros ocorreu com uma dose mais alta do ácido fólico comparado com o tratamento com dose baixa.

Comentário: Estudo clínico prospectivo, longitudinal, randomizado, controlado com grupos paralelos sob intervenção e contra placebo. Metodologia adequada. Excelente aplicabilidade clínica.

O tratamento com baixa dose de ácido fólico, comparável com a ingesta diária e a fortificação da dieta, melhora a função vascular através de efeitos sobre a sintetase do óxido nítrico e sobre o stress oxidativo vascular. Alta dose de ácido fólico não confere benefício adicional.

Os autores principais são membros do Department of Cardiovascular Medicine, John Radcliffe Hospital, University of Oxford, Oxford, United Kingdom. Autor responsável: Prof Keith M. Channon – keith.channon@cardiov.ox.ac.uk.

Prevalência trans-nacional e correlações da desordem déficit de atenção – hiperatividade no adulto

Fayyad J, De Graaf R, Jin R et al. Cross–national prevalence and correlates of adult attention–deficit hyperactivity disorder. The British Journal of Psychiatry. May, 2007;190(5):402-409.

Conhecimento prévio ao estudo: Pouco se sabe a cerca da epidemiologia da desordem déficit de atenção – hiperatividade do adulto (ADHD).

Estudo: Estudo prospectivo, transversal, populacional, efetuado em 10 países nas Américas, Europa e Oriente Médio, envolvendo 11.422 indivíduos com idades entre 18 e 44 anos, para estimar a prevalência e correlações da DSM-IV ADHD do adulto. Foi utilizado um questionário de screening, o qual foi previamente validado em um ensaio cego.

Conhecimento adquirido com o estudo: A prevalência estimada média da ADHD do adulto é de 3,4% (variando de 1,2 a 7,3%), com menor prevalência em países de menor renda (1,9%) comparados com países de maior renda (4,2%). A ADHD do adulto frequentemente coexiste com outras desordens do DSM-IV e é associada com considerável deficiência funcional. Poucos casos são tratados para ADHD, mas em muitos casos o tratamento é dirigido para as comorbidades.

Comentário: Estudo clínico prospectivo, transversal, populacional, com uma amostra expressiva. Metodologia original e adequada, previamente validada. Excelente aplicabilidade clínica. A desordem déficit de atenção – hiperatividade deveria ser considerada mais seriamente na atenção primária e em estudos epidemiológicos e clínicos.

Os autores principais são membros do Institute of Development, Research, Advocacy and Applied Care (IDRAAC), Department of Psychiatry and Clinical Psychology, St George Hospital University Medical Centre, Balamand University, Beirut, Lebanon, do Netherlands Institute of Mental Health and Addiction, Utrecht, The Netherlands e do Department of Health Care Policy, Harvard Medical School, Boston, Massachusetts, USA. Autor responsável: Dr. John Fayyad – jfayyad@idraac.org.

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Padrões de ingesta de bebidas alcoólicas e mortalidade: Resultados de um estudo de coorte de grande escala, baseado na população, no Japão

Marugame T, Yamamoto S, Tsugane S et al for the Japan Public Health Center-based Prospective Study Group. American Journal of Epidemiology. May 1, 2007;165(9):1039-1046.

Conhecimento prévio ao estudo: Há uma crença social no Japão que um “feriado para o fígado”, abstenção de bebidas alcoólicas por mais do que dois dias na semana, é benéfico para bebedores sistemáticos.

Estudo: Estudo prospectivo, longitudinal, de coorte, baseado na população para avaliar a hipótese que, em termos de mortalidade de todas as causas, o consumo de bebidas alcoólicas entre 1 a 4 dias na semana é menos danoso do que diariamente (5 a 7 dias), bebendo a mesma quantidade de bebidas alcoólicas. Participaram 88.746 indivíduos Japoneses (41.702 homens e 47.044 mulheres) com idades entre 40 e 69 anos no início do estudo, respondendo a um questionário auto-administrado e seguidos entre 1990 e 2003.

Entre os indivíduos masculinos com consumo regular de bebidas alcoólicas por mais de um dia por semana, bebedores leves (< productid="5 a" st="on">5 a 7 dias na semana, enquanto não se observou aumento do risco entre aqueles que consumiam álcool em menos do que 4 dias na semana. A razão de chances para bebedores que consumiam álcool 5 a 7 dias por semana foi de 1,29 para 300-449g por semana e 1,55 para igual ou mais de 450g por semana, quando comparados com aqueles bebedores ocasionais que consumiam álcool 1 a 3 dias por mês.

Conhecimento adquirido com o estudo: Entre consumidores pesados de bebidas alcoólicas (acima de 300g/semana) o risco de mortalidade de todas as causas é maior naqueles que bebem entre 5 a 7 dias por semana do que os outros que bebem a mesma quantidade, mas em até 4 dias na semana.

Força de evidência: (A)* - Estudo clínico prospectivo, longitudinal, de uma grande coorte populacional, seguidos por um longo período, sem perda significativa de seguimento. Metodologia, coleta dos dados, seguimento e tratamento estatístico adequados. Sistemas organizados de saúde com banco de dados projetado e atualizado do ponto de vista epidemiológico permitem grandes estudos como acima, com mínima perda de seguimento. Excelente aplicabilidade clínica.

Os autores principais são membros do Cancer Information Services and Surveillance Division, Center for Cancer Control and Information Services e da Epidemiology and Prevention Division, Research Center for Cancer Prevention and Screening, National Cancer Center, Tokyo, Japan. Autor responsável: Dr. Tomomi Marugame – tmarugam@gan2.res.ncc.go.jp.