Primum non nocere

Hipócrates, ao redor do ano 430 aC, propôs aos médicos, no parágrafo 12 do primeiro livro da sua obra Epidemia:
"Pratique duas coisas ao lidar com as doenças; auxilie ou não prejudique o paciente" - ou seja, primum non nocere - primeiro de tudo, não provoque nenhum dano.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Psiquiatras, crianças e o papel da indústria farmacêutica

Harris G, Carey B and Roberts J. Psychiatrists, Children and Drug Industry’s Role. The New York Times. May 10, 2007. Health Section.

Artigo de revisão: Resumo de artigo com total fidelidade ao texto original dos autores, os quais são os responsáveis pelas afirmações abaixo.

Os pagamentos da indústria farmacêutica para psiquiatras do estado de Minnesota para conferências e outras atividades elevou-se em seis vezes de 2000 a 2005, enquanto que as prescrições de antipsicóticos para crianças no programa Medicaid no mesmo estado e no mesmo período elevaram-se em nove vezes.

A reportagem relata que há tendências gerais no uso, frequentemente fora da indicação em bula, de antipsicóticos em crianças e que isso está focado no banco de dados do Medicaid de Minnesota entre 2000 e 2005 porque neste estado exige-se a revelação dos pagamentos da indústria farmacêutica para médicos.

Alguns aspectos descobertos pela reportagem são bastante indicativos de uma ligação entre a prescrição de antipsicóticos para crianças e recebimento de fundos da indústria. Como nos seguintes exemplos: a) Psiquiatras que receberam mais do que $ 5.000 da indústria de antipsicóticos atípicos, em média prescreveram 3x mais prescrições para essas medicações em crianças do aqueles médicos que receberam valores inferiores; b) Os psiquiatras receberam uma média de $ 1.750 cada um da indústria entre 2000 e 2005, mais do que qualquer outra especialidade médica no estado; c) O custo do estado para as drogas antipsicóticas usadas em crianças aumentou 14x de 2000 a 2005, de $ 521.000 para $ 7,1 milhões.

Comentário do Editor: Ainda nessa semana, o próprio NYT publicou outra reportagem na qual relatavam que um grupo de seis oncologistas recebeu $ 2,7 milhões de um fabricante pela prescrição de $ 9 milhões de agentes estimulantes da eritropoiese em 2006. Essas medicações, prescritas por oncologistas e clínicas de diálise, têm indicações claras e doses bem definidas, muito inferiores às doses usualmente prescritas.

São apenas alguns indícios vistos de longe do gigante iceberg que representa a relação da indústria farmacêutica e médicos pesquisadores, conferencistas ou simplesmente, prescritores.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Oxicodona (Oxycontin®) – FDA – 10 de Maio de 2007.


O FDA informou aos profissionais da saúde sobre a acusação criminal e de responsabilidades civis contra a Purdue Frederick Company em conexão com vários esquemas ilegais para promover, distribuir e vender Oxycontin®, (Oxicontin® no Brasil, da Zodiac), um analgésico forte de prescrição médica que outras companhias também produzem. A força de vendas desta indústria foi treinada para fazer falsas propagandas acerca do produto aos profissionais da saúde, promovendo ilegalmente o medicamento como sendo menos aditiva, menos sujeita ao abuso e menos provável de causar tolerância e síndrome de abstinência do que outras medicações analgésicas. Essas práticas falsamente promovem o produto e podem causar risco à saúde para os consumidores.

True Man e Energy Max® – FDA – 10 de Maio de 2007.

O FDA informou aos consumidores e profissionais da saúde acerca dos perigos associados com a compra e uso dos produtos True Man e Energy Max, promovidos e vendidos como suplementos dietéticos nos EUA e exportados ou vendidos através do e-commerce para outros países.

Ambos os produtos, promovidos como elementos de melhoria sexual e para o tratamento da disfunção erétil, são produtos medicamentosos ilegais que contém ingredientes potencialmente danosos e não declarados. Tais ingredientes podem interagir com nitratos encontrados em algumas medicações de prescrição médica e podem reduzir a pressão sanguínea a níveis perigosos. Ambos os produtos contém ou uma tiona análoga do sildenafil, o ingrediente ativo do Viagra®, ou uma piperadina análoga da vardenafil, o ingrediente ativo do Levitra®. Ambos Viagra e Levitra são produtos aprovados para o tratamento da disfunção erétil. O FDA não aprovou True Man e Energy Max, então, a segurança e efetividade desses produtos são desconhecidas. Os consumidores devem descontinuar o uso desses produtos e consultar seu profissional da saúde acerca dos tratamentos aprovados para disfunção erétil.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Dose de aspirina para prevenção de doença cardiovascular. Uma revisão sistemática

Campbell CL, Smyth S, Steinhubl SR et al. Aspirin Dose for the Prevention of Cardiovascular Disease. A Systematic Review. JAMA. May 9, 2007;297(18):2018-2024.

Conhecimento prévio ao estudo: Milhões de indivíduos adultos no mundo todo usam regularmente a aspirina para prevenção de doença cardiovascular a longo prazo, frequentemente com doses que variam de 81mg/dia a 325mg/dia. Permanece uma controvérsia a cerca da dose diária a longo prazo mais apropriada.

Estudo: Revisão sistemática ampla da literatura até Fevereiro de 2007 através dos principais bancos de dados em língua inglesa, pesquisando ensaios clínicos e bibliografias de relatos pertinentes de dados originais e artigos de revisão.

Os dados farmacológicos demonstram que dosagens de longo prazo da aspirina tão baixas quanto 30mg/dia já são adequadas para plenamente inibiram a produção de tromboxane plaquetária, entretanto, verifica-se que doses tão altas quanto 1.300mg/dia são aprovadas para uso.

A evidência disponível, predominantemente de estudos observacionais de prevenção secundária, suporta que dosagens maiores do que 75 a 81mg não aumentam a eficácia, enquanto que doses maiores estão associadas com um aumento da incidência de eventos hemorrágicos, primariamente relacionados à toxicidade do trato intestinal.

Conhecimento adquirido com o estudo: Os dados disponíveis atualmente não suportam o uso rotineiro de longo prazo de dosagens da aspirina maiores do que 75 a 81mg para a prevenção de doença cardiovascular. Altas doses não têm efeito melhor na prevenção e são associadas a riscos aumentados de hemorragia gastrintestinal.

Comentário: Estudo de revisão sistemática bastante amplo, bem conduzido e de alta qualidade técnica, entretanto, os principais resultados se basearam em estudos observacionais e não em ensaios clínicos randomizados, controlados, os quais são escassos. O suporte à evidência é moderado, mas é reforçado pelos dados farmacológicos. Boa aplicabilidade clínica.

Os autores principais são membros do Gill Heart Institute, University of Kentucky, Lexington, USA.

domingo, 6 de maio de 2007

Rimonabanto (Acomplia®) – Anvisa – Maio de 2007

A ANVISA aprovou o registro de Acomplia® (Rimonabanto) para o tratamento de pacientes obesos ou com sobrepeso e com fatores de risco cardiometabólicos associados como diabetes tipo II e/ou dislipidemia.

O rimonabanto age bloqueando de maneira seletiva os receptores CB1 presentes no cérebro e nos órgãos periféricos que interferem no metabolismo da glicose e lipídios, incluindo o tecido adiposo, o fígado, as vias digestivas e os músculos. Ao bloquear os receptores CB1, ele atua diminuindo a hiperativação do sistema endocanabinóide (sistema EC). O sistema EC é um sistema fisiológico descoberto recentemente, constituído por receptores tais como os receptores CB1, que se acredita desempenhar um papel importante na regulação do peso corporal e no equilíbrio energético, bem como no metabolismo da glicose e dos lipídios.

Empregado na dose diária única de 20mg permite reduzir de maneira significativa o peso, a circunferência abdominal, os índices de HbA1c (hemoglobina glicada) e de triglicérides, bem como elevar as taxas de colesterol HDL. O principal efeito colateral é a náusea, seguida por diarréia, tonturas e vômitos, assim como agravamento de quadros depressivos.