Primum non nocere

Hipócrates, ao redor do ano 430 aC, propôs aos médicos, no parágrafo 12 do primeiro livro da sua obra Epidemia:
"Pratique duas coisas ao lidar com as doenças; auxilie ou não prejudique o paciente" - ou seja, primum non nocere - primeiro de tudo, não provoque nenhum dano.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Efeito anticâncer do brócolis pode ser ampliado

Efeito anticâncer do brócolis pode ser ampliado: "A descoberta poderá permitir que se aumente a atividade das bactérias benéficas no cólon, aumentando o poder que o brócolis tem na prevenção do câncer."

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Omeprazol (Losec®) e Nefrite Intersticial


ANDRAC - AUS - Nefrite intersticial é uma bem reconhecida, porém rara, reação de hipersensibilidade ao omeprazol. Recentemente, a ANDRAC recebeu a notificação de 18 casos de nefrite intersticial por omeprazol. A idade média era de 68 anos, sendo apenas cinco homens. O tempo médio do início foi de 3 meses (12 dias a 12 meses). Os sintomas principais incluíram perda de peso, mal estar, febre, náusea. Em todos os casos ocorreu elevação dos níveis de uréia e creatinina. Foram biopsiados 8 pacientes que mostraram padrão característico de nefrite intersticial. A tríade clássica de febre, rash e eosinofilia foi incomum. Até o momento dessa publicação, 50% dos pacientes já haviam recuperado a função renal, incluindo 2 casos que mostraram rápida melhora (2 a 3 semanas).
O ANDRAC tem recebido dois relatos de casos de nefrite intersticial com o rabeprazol. Nenhum outro inibidor da bomba de prótons, como lanzoprazol, pantoprazol ou esomeprazol, foi relacionado com nefrite intersticial, em território australiano.
Nefrite intersticial tem sido associada com antibióticos beta-lactâmicos e sulfonamidas, diuréticos, antiinflamatórios não hormonais, cimetidina, allopurinol e rifampicina.

Interações com suco de grapefruit (pomelo)


ADRAC - AUS - Relatório do comitê de reações adversas lembrando que o suco de grapefruit (pomelo) interage com várias drogas em função da inibição local de uma das enzimas do sistema citocromo P450 (CYP3A4) e da P-glicoproteina em enterócitos, na parede intestinal. Ela não afeta o sistema citocromo P450 hepático. Interação tem sido demonstrada (aumento de disponibilidade da droga) com bloqueadores dos canais de cálcio (felodipina, amlodipina e nifedipina), estatinas (simvastatina e atorvastatina), benzodiazepínicos (midazolam e triazolam), ciclosporina, saquinavir, e cisaprida. O comitê adverte que essas interações correm tanto com o suco como com a fruta inteira, podendo variar em função de marcas ou concentrações do suco, e que se deve evitar tomar o suco ou a fruta até pelo menos 2hs da tomada de qualquer medicação. Com exceção das laranjas azedas Sevilla, aparentemente não há interação com outras frutas cítricas.

Thiomersal (Timerosal) em vacinas


MCA - UK - Determinações do Comitê de Segurança em Medicina a respeito da manutenção do timerosal em vacinas. As vacinas que contém timerosal (etilmercúrio) são a difteria, tétano e pertussis (DTP) e difteria e tétano, em algumas vacinas para influenza e hepatite B. Não há timerosal na MMR, Hib, pólio oral, meningite C ou BCG. Dois novos estudos epidemiológicos conduzidos no Reino Unido, envolvendo mais de 100.000 crianças, não mostraram evidências de efeitos adversos à exposição ao timerosal, exceto por reações alérgicas menores do tipo vermelhidão e edema local. Outro estudo mostrou que o etilmercúrio é rapidamente excretado após a administração de vacinas com timerosal. Portanto, não há razão para retirar esse componente das vacinas ou evitar a administração de vacinas que contenham o timerosal.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Suplementação com vitamina B e ácido fólico não reduz o declínio cognitivo na Doença de Alzheimer

Aisen PS, Jin S et al. High-dose vitamin supplementation and cognitive decline in Alzheimer Disease. A randomized controlled trial. Journal of American Medical Association. October 15, 2008; 300(15):1774-1783.

A homocisteína é um aminoácido (produzido após a digestão de carnes ou laticínios), que em
excesso no sangue, provoca aumento do risco de coágulos e entupimento das artérias, além de contribuir para a formação de depósitos de gordura nas paredes dos vasos sanguíneos, aumentando sua rigidez e dando origem à chamada aterosclerose.

Estudos prévios têm mostrado que os níveis de homocisteína podem estar elevados na doença de Alzheimer e que essa elevação poderia contribuir para os mecanismos vasculares e neurotóxicos responsáveis pela degeneração cerebral. Sabe-se também que mesmo na ausência de deficiência de vitaminas, os níveis de homocisteína podem ser reduzidos pela administração de altas doses de ácido fólico e vitaminas B6 e B12.
O presente estudo pretendeu determinar a eficácia e segurança da suplementação de ácido fólico e vitamina B no tratamento da doença de Alzheimer. Trata-se de um ensaio clinico de alta qualidade, envolvendo 340 participantes e acompanhados por 18 meses.
Os resultados mostraram que embora a suplementação tenha reduzido os níveis sanguíneos de homocisteína, não ocorreu qualquer efeito sobre a lentificação do declínio cognitivo característico da doença de Alzheimer. Adicionalmente, observou-se uma maior quantidade de eventos adversos envolvendo depressão nos pacientes tratados com os suplementos vitamínicos.
Portanto, mais um estudo mostrando que a suplementação de vitaminas não altera a evolução da maioria das doenças e inclusive pode provocar o aparecimento de efeitos adversos importantes conforme vem sendo documentado em outros estudos. Antes de pensar em alguma suplementação com vitaminas, aminoácidos e outros compostos bioenergéticos, especialmente os indicados pela falaciosa medicina ortomolecular, converse com seu médico.

Rimonabanto para o tratamento de adultos obesos e com sobrepeso: Guideline (Protocolo, linhas guias de atuação)

National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE). Rimonabant for the treatment of overweight and obese adults. London (UK): National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE); 2008 Jun:30. National Guideline Clearinghouse.


O Rimonabanto é um antagonista seletivo do receptor canabinóide tipo 1 (CB1), parte do sistema endocanabinoide que apresenta importante ação na regulação do apetite. Estudos publicados nos últimos anos têm demonstrado que o rimonabanto é efetivo na perda de peso e na melhora dos parâmetros metabólicos, incluindo a redução da gordura visceral (abdominal).

Esse é um guia de recomendações sobre o uso do rimonabanto do Instituto Nacional para Saúde e Excelência Clinica do Reino Unido:

- O rimonabanto (Acomplia®) é recomendado como um possível tratamento para adultos obesos (Índice de Massa Corpórea – IMC – igual ou superior a 30) ou com sobrepeso (IMC igual ou superior a 27) e que tenham fatores de risco, tais como diabetes do tipo II ou altos níveis de colesterol. Esse produto deveria ser usado junto com uma dieta de controle calórico e atividade física em indivíduos que já tenham tentado outros medicamentos auxiliares na perda de peso, como o orlistat (Xenical®) e sibutramina(Reductil®) (dois indutores de perda de peso atualmente em uso, relativamente seguros), mas que ou não suportaram seus efeitos colaterais ou não obtiveram o efeito pretendido.

- O tratamento com Rimonabanto deveria ser mantido por mais de 6 meses somente naqueles indivíduos que tiveram uma perda de peso no mínimo de 5% em relação ao seu peso inicial, quando do início do tratamento.

- O tratamento com Rimonabanto deveria ser descontinuado se o indivíduo retorna ao seu peso original enquanto sob tratamento com o rimonabanto.

- O tratamento com rimonabanto não deveria ser continuado por mais de 2 anos sem uma avaliação clínica formal e discussão dos riscos e benefícios individuais com o indivíduo recebendo tratamento.

O rimonabando é um bloqueador dos receptores canabinóides e em estudos clínicos mostrou efeitos favoráveis não somente na perda de peso, mas também sobre a glicemia em jejum, colesterol HDL(elevação do bom colesterol) e triglicérides. Os receptores do sistema endocanabinóide localizados no cérebro são os mesmo que acoplam a maconha, provocando o desejo de comer e beber muito; ao bloquear esses receptores o medicamento bloqueia um dos sistemas provocadores da fome, fazendo com que os pacientes percam em torno de 5% a 10% do seu peso. Entretanto, esses mesmos receptores modulam parte dos distúrbios relacionados com depressão, fobias, ansiedade e stress pós-traumático. Estudos clínicos conduzidos em países onde o medicamento foi comercializado, incluindo alguns Europeus, mostraram que dobrou o risco de problemas relacionados com ansiedade, depressão, agressão e psicose, além de suicídios eventuais.

Portanto, atenção redobrada nos casos em que já exista distúrbio prévio de ansiedade e/ou depressão e acompanhamento médico freqüente durante o uso dessa nova medicação.


Consumo moderado de vinho tinto associado a um menor risco de câncer de pulmão, mesmo entre fumantes.

Chao C, Quinn VP et al. Alcoholic beverage intake and risk of lung cancer: The California Men’s Health Study. Cancer Epidemiology Biomarkers & Prevention. October 1, 2008;17:2692-2699.,

Esse estudo analisou dados de uma população de 84.170 homens com idade entre 45 e 69 anos, os quais foram coletados em 2.000 e 2003 e posteriormente cruzados com casos incidentes de câncer de pulmão até o final de 2006.
Os resultados mostraram que o consumo moderado de vinho tinto é associado com uma redução na incidência de câncer de pulmão, especialmente entre os fumantes (atuais ou passados). Fumantes que bebiam pelo menos 1 taça de vinho tinto por dia tiveram uma redução de 60% na chance de desenvolver câncer de pulmão do que fumantes abstêmios.
Outros tipos de bebidas alcoólicas, como vinho branco, cerveja e licores, não mostraram redução no risco de câncer de pulmão.
O vinho tinto é conhecido por conter altos níveis de antioxidantes, dentre os quais o resveratrol, composto que mostrado benefícios significativos para a saúde em estudos pré-clínicos. Pesquisas prévias têm associado o resveratrol do vinho tinto com redução do risco de aterosclerose, doença cardiovascular e doenças cerebrais, tais como a doença de Alzheimer.

Consumo moderado de cafeína não associado ao risco de câncer de mama

Ishitani K, Zhang SM et al. Caffeine consumption and the risk of breast cancer in a large prospective cohort of women. Arch Intern Med. 2008;168(18):2022-2031.


Dados históricos apontavam que o consumo pesado de cafeína estava associado com um risco aumentado de doença mamária benigna e que a cafeína poderia acelerar a progressão de formas agressivas do câncer de mama.

O presente estudo, análise de 10 anos do acompanhamento de 38.432 mulheres com mais de 45 anos de idade, dentre as quais foram identificados 1.188 casos de câncer de mama invasivos, mostrou que o consumo de cafeína e bebidas cafeinadas (cafés, refrigerantes e chás) não está associado com um risco aumentado para câncer de mama, incluindo consumo exagerado de mais de 4 taças de café diariamente.

Entretanto, em mulheres com doença mamária benigna prévia uma associação discretamente significativa para o risco de câncer de mama foi observada naquelas mulheres que estavam no grupo de mais alto consumo de cafeína e café, além de também se associar com risco de câncer de mama com receptores negativos para os hormônios femininos (estrógeno e progesterona) e com tumores maiores de 2 cm (fatores de pior prognóstico).

Portanto, em mulheres com mamas saudáveis o consumo mesmo exagerado de café não aumenta o risco para câncer de mama; entretanto, para aquelas que já têm algum tipo de distúrbio mamário benigno (nódulos prévios, displasia mamária, entre outros) o consumo de café e bebidas com cafeína deveria ser no máximo, moderado. O fato de aparecerem tumores de pior prognóstico naquelas de alto consumo de café ainda precisa ser melhor esclarecido, pode estar ocorrendo um erro de seleção em função de outras variáveis associadas.

Em resumo, esse estudo sugere que café e bebidas cafeinadas não estão relacionados com câncer de mama, mesmo em alto consumo, mas também não convém exagerar.

Uso de paracetamol por gestantes, crianças e mesmo adultos, pode aumentar o desenvolvimento de Asma

Beasley R, Clayton T et al for de ISAAC Phase Three Study Group. Association between paracetamol use in infancy and childhood, and risk of asthma, rhinoconjunctivitis, and eczema in children aged 6–7 years: analysis from Phase Three of the ISAAC programme. Lancet. September 20, 2008; 372(9643): 1039-1048.


A exposição ao paracetamol (Tylenol®, Dórico®, paracetamol genérico, várias marcas similares) durante a vida intra-uterina, infância e vida adulta pode aumentar o risco de desenvolvimento de asma. Pesquisadores pertencentes ao Programa de Estudo Internacional de Asma e Alergias em Crianças (ISAAC) publicaram, recentemente, no The Lancet, (uma das mais respeitadas revistas técnicas sobre Medicina) os resultados obtidos na fase três do estudo, na qual investigaram a associação entre o consumo de paracetamol e asma.

Participaram da análise 205.487 pacientes com idades entre 6 e 7 anos originados de 73 centros em 31 países. O uso de paracetamol no primeiro ano de vida foi associado com um risco aumentado de sintomas de asma quando na idade de 6 a 7 anos. O uso corrente de paracetamol foi associado com um risco crescente dose-dependente de sintomas de asma, com razão de chances de 1,61 para 3,23, respectivamente para uso médio e alto. Ele também foi associado com um risco aumentado de sintomas de rinoconjuntivite (alérgica) e eczema (alérgico).

Portanto, os resultados desse estudo sugerem fortemente que a exposição ao paracetamol poderia ser um fator de risco para o desenvolvimento de asma na infância. Outras opções de antitérmicos e analgésicos deveriam ser tentadas, especialmente em crianças alérgicas ou com risco de desenvolver asma ou outras condições alérgicas (rinite, conjuntivite e eczema).