Primum non nocere

Hipócrates, ao redor do ano 430 aC, propôs aos médicos, no parágrafo 12 do primeiro livro da sua obra Epidemia:
"Pratique duas coisas ao lidar com as doenças; auxilie ou não prejudique o paciente" - ou seja, primum non nocere - primeiro de tudo, não provoque nenhum dano.

quarta-feira, 21 de março de 2007

As estatinas reduzem a pressão arterial? Uma meta-análise de ensaios clínicos ramdomizados, controlados.

Strazzulo P, Kerry SM, Cappucio FP et al. Do Statins Reduce Blood Pressure? A Meta-Analysis of Randomized, Controlled Trials.

Hypertension April, 2007;49(4):792-798.

Conhecimento prévio ao estudo: Alguns estudos têm sugerido uma redução consistente da pressão arterial nos indivíduos em uso de estatinas, entretanto não há publicações dirigidas para esse possível efeito desses medicamentos.

Objetivo do estudo: Determinar se o uso de estatinas tem algum efeito sobre a pressão arterial comparadas com placebo ou outros hipolipemiantes.

Metodologia: Estudo de meta-análise sobre o efeito dos inibidores da 3hidroxi - 3metilglutaril-coenzima A redutase (estatinas) sobre a pressão arterial em humanos, o qual incluiu ensaios clínicos randomizados e controlados de tratamento com estatinas. Foram avaliados 20 ensaios clínicos totalizando 828 pacientes. Um ponto importante na seleção dos estudos é que se existisse qualquer tratamento anti-hipertensivo concomitante a dose deveria permanecer inalterada ao longo de todo o seguimento do estudo.

Resumo dos resultados: Nos ensaios avaliados, 291 pacientes receberam estatinas e 272 apenas placebo em estudos do tipo grupos paralelos, enquanto que 265 participaram de estudos do tipo cruzado, recebendo uma estatina e placebo (ou probucol em 1 ensaio).

A pressão arterial sistólica foi significativamente menor em pacientes em uso de estatinas do que naqueles com placebo ou droga hipolipemiante de controle (diferença média: –1,9 mm Hg; 95% IC: –3,8 a –0,1). O efeito foi maior quando a análise foi restrita aos estudos com uma pressão arterial sistólica basal >130 mm Hg ({Delta} pressão arterial sistólica: –4,0; 95% IC: –5,8 a –2,2 mm Hg). Adicionalmente houve uma tendência para menor pressão arterial diastólica em pacientes recebendo tratamento com estatina comparados com tratamento controle: –0,9 mm Hg (95% IC: –2,0 a 0,2) considerando todos os pacientes e –1,2 mm Hg (95% IC: –2,6 a 0,1) nos estudos com uma pressão arterial diastólica basal >80 mm Hg.

Em geral, uma maior pressão arterial basal predisse um maior efeito das estatinas sobre a pressão arterial (P=0,066 para pressão arterial sistólica e P=0,023 pressão arterial diastólica). A resposta da pressão arterial às estatinas foi independente da idade, mudanças no colesterol sérico ou extensão do ensaio clínico.

Conhecimento adquirido com o estudo: O tratamento com estatinas tem um relativamente pequeno, mas estatisticamente significativo e clinicamente expressivo efeito sobre a pressão arterial, especialmente a pressão arterial sistólica acima de 130 mm Hg.

Força de evidência: (A)* - Estudo clínico prospectivo do tipo meta-análise avaliando apenas ensaios clínicos randomizados, controlados, com desenhos do tipo paralelo e cruzado, contra placebo ou outra droga hipolipemiante. O detalhamento da pesquisa, critérios de inclusão e exclusão e análise técnica foram adequadamente descritos. Estudo de alta qualidade técnica e excelente tratamento estatístico.

Amostra populacional adequada e conclusões de acordo com os resultados obtidos. Excelente aplicabilidade clínica.

Os autores são membros do Department of Clinical and Experimental Medicine e do Clinical Sciences Research Institute, Warwick Medical School, Coventry, United Kingdom. Autor responsável: Pasquale Strazzulo – strazzul@unina.it.

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